O Santander Brasil prevê um crescimento do mercado de crédito no Brasil este ano menor em meio às dificuldades do cenário inflacionário e de juros, que tende a pesar sobre a demanda, e está “atento” ao comportamento da inadimplência.
“A gente falou na divulgação do (resultado) do terceiro trimestre que talvez não fosse crescer tanto este ano…A visão do ‘high single digit’ ainda existe, mas acho que vai ser revisada ao longo do ano”, afirmou o presidente-executivo do banco, Mario Leão, em teleconferência com analistas.
Mais cedo, o banco reportou lucro líquido de R$ 3,855 bilhões no quarto trimestre do ano passado, acima das previsões de analistas, com a carteira crédito mostrando expansão de 6,2% ano a ano, mas de apenas 2,9% na base trimestral.
Na bolsa paulista, as units da unidade brasileira do banco espanhol Santander avançavam mais de 7%.
“Estou super tranquilo de ter falado o que eu falei…já víamos sinais de que não havia sentido pensar em cenário de crescimento de dois dígitos no crédito e fizemos ajustes”, afirmou o executivo.
Tradicionalmente, o Santander Brasil evita transmitir previsões precisas, diferente de outros rivais maiores como Itaú Unibanco e Bradesco, que divulgam seus números do quarto trimestre nesta semana.
De acordo com o CFO do banco, Gustavo Alejo, o Santander Brasil começou em setembro uma estratégia de hedge, algo até então inédito no banco, para reduzir a sensibilidade dos resultados da instituição ao cenário macro.
“A decisão, estratégica, já foi tomada”, disse o executivo. “É para a gente ter mais previsibilidade e menos sensibilidade não só para 2025, mas para 2026, 2027 e 2028 em diante”, afirmou Alejo, sem dar detalhes sobre a estratégia.
Questionado sobre estar pessimista acerca dos reflexos da piora no cenário para a inadimplência em 2025, Leão afirmou que o termo é forte, mas que o Santander Brasil está “atento”.
“Nós estamos atentos à evolução do cenário macro mais desafiador nas pessoas físicas, no que tange ao impacto da inflação, na renda disponível, na capacidade de consumo da pessoa física…na capacidade de pagamento”, explicou.
“Nós estamos atentos e acompanhando e, na margem, tomando medidas alimentadas por essas informações novas que a gente vai capturando.” No caso de pessoas jurídicas, ele destacou que se trata mais de um tema de consumo de caixa.
Falando sobre o consignado privado, mecanismo que o governo está desenvolvendo para fortalecer as concessões de crédito com desconto em folha de pagamento para os trabalhadores do setor privado, o presidente do Santander defendeu que a adoção de limite nas taxas de juros cobradas tira potencial do produto.
“Eu tenho a visão de que esse produto de crédito pode ser para o crédito o que o Pix foi para os pagamentos e transferências”, afirmou ele em coletiva para jornalistas na sede do banco em São Paulo.
De acordo com Leão, essa modalidade tem potencial de destravar acesso a crédito para muitos públicos que hoje não têm acesso a crédito “tradicional, bem como migrar com o tempo pessoas físicas de linhas mais caras para linhas mais competitivas”, entre outras possibilidade.
“Mas um teto (na taxa de juros) limita o público-alvo”, afirmou, explicando que o banco não pode avaliar todos os clientes da mesma forma.
CVM 4.966, ROE
Em relação aos efeitos no banco da norma 4.966 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que passou a valer este ano e altera mecanismos como modelos de provisionamento pelos bancos, Alejo estimou que o impacto líquido será neutro.
Segundo ele, a regra trouxe pontos positivos de “diferimento de algumas condições de pagamentos” e negativos relacionados ao “incremento de provisões”.
Por sua vez, Leão reafirmou o objetivo do Santander Brasil em alcançar um nível de rentabilidade sobre patrimônio, medida pelo índice ROE, de 20%, mas que isso não deve acontecer “no curtíssimo prazo”. No quarto trimestre, o indicador foi de 17,6%, crescendo ante 12,3% nos três últimos meses de 2023.
Para alcançar a meta, que é o objetivo final da transformação do banco que já leva anos em direção a uma simplificação de suas ofertas, melhora na relação de “principalidade” dos clientes, e redução de custo, Leão afirmou que o Santander Brasil precisa avançar na eficiência, ainda mais diante das dificuldades do ambiente macroeconômico.
“Precisamos trabalhar mais em custo para servir”, disse o executivo, citando que a estratégia de redução da base de agências continua neste ano, aliada aos efeitos da simplificação de produtos, algo que inclui diminuição no número de cartões de crédito diferentes oferecidos pelo Santander Brasil.
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