Especialistas consultados pela CNN nesta sexta-feira (25) disseram que a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o Brasil ter supostamente enriquecido cobrando tarifas dos americanos “não faz sentido”.
Os analistas destacam que o montante que o Brasil recebe advindo de taxação sobre produtos americanos não é considerável em comparação com outros meios de aumentar a renda.
“Não faz sentido porque a participação de tarifas no orçamento brasileiro é muito pequena, de cerca de 2%, em média. A participação do Imposto de Importação (II) no orçamento é relativamente baixa se comparada a outras fontes de receita”, declarou Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil.
Barral destacou que dados e projeções históricas indicam que o envolvimento do II na receita federal tem ficado, inclusive, geralmente abaixo do patamar de 2% do total arrecadado.
“Embora os dados exatos para o ano de 2025 ainda não estejam totalmente consolidados, podemos analisar informações de anos anteriores e projeções para ter uma ideia da sua relevância. Em 2024, a receita total do governo federal foi de R$ 2,43 trilhões, e a arrecadação com impostos de importação representou uma parcela bem menor desse montante”, declarou.
As principais fontes de receita federal do Brasil são o Imposto de Renda, a contribuição previdenciária e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), que é um imposto estadual, mas tem impacto significativo na economia nacional.
Além da pequena fatia do orçamento oriunda de taxas de importação, os analistas ressaltaram que o Brasil é deficitário na balança comercial com os Estados Unidos, ou seja, acaba importando mais do que exportando em valores absolutos.
“Nem da própria perspectiva dele [Trump] faz sentido, pois o Brasil não está na lista dos 10 maiores déficits comerciais dos Estados Unidos. Nem se usar esse raciocínio dá para dizer que os Estados Unidos saem perdendo”, afirmou Paulo Gala, professor de economia da FGV.
“Para o Brasil, o comércio é bastante vantajoso, pois nós exportamos muitas peças de avião com a Embraer, até porque o principal destino de exportação brasileiro é os Estados Unidos. Mas a gente importa muita coisa também das multinacionais americanas, é um típico exemplo de ‘ganha-ganha’ das duas partes”, acrescentou.
Roberto Dumas, professor de economia, diz que também não seria correto olhar para regimes especiais de importação de produtos brasileiros aos Estados Unidos, pois medidas diferenciadas são realizadas por ambas as partes.
“É óbvio que existe alguma disparidade de imposto aqui e ali, como no caso do etanol, mas não sei que tese Trump está usando para dizer que ganhamos muito dinheiro em cima dos Estados Unidos”, declarou o economista.
“Ele [Trump] fala que todos que têm alguma tarifa diferenciada estão ganhando dinheiro em cima deles, o que não é verdade. Eles [Estados Unidos] também tem tarifas diferenciadas de alguns produtos, e entre ganhos e perdas, nós que estamos perdendo por estarmos deficitários”, concluiu.
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