Uma guerra comercial com os Estados Unidos não interessa à China, concordaram Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), e Larissa Wachholz, sócia da Vallya e especialista de Ásia do Cebri, que participam do WW desta terça-feira (4).
A avaliação é de que a tensão não deve ficar limitada aos dois países, e insistir em uma escalada pode ressoar no mundo e, consequentemente, afetar a cadeia de comércio internacional.
“Não interessa de forma alguma uma escalada tarifária que vá prejudicar o comércio internacional de forma mais ampla. A China cresceu a partir do comércio internacional, é a principal parceira de mais de 120 países. Os chineses precisam do sistema internacional funcionando”, afirmou Wachholz.
A especialista em Ásia e o ex-OMC também concordam que a resposta da China foi cautelosa, mas certeira. Wachholz relembrou que a China teve muito tempo para preparar sua reação, uma vez que o presidente dos EUA, Donald Trump, projetou ao longo de toda sua campanha eleitoral o interesse de aplicar cobranças pesadas sobre os chineses.
“[Com essa postura,] os chineses não so indicaram que podem elevar tarifas, mas que têm possibilidade de impactar negócios de empresas americanas que têm interesses no mercado chinês”, avaliou a analista.
Nesse sentido, Roberto Azevêdo ressaltou que a resposta chinesa foi “cirúrgica”, buscando maximizar o impacto aos EUA, focando em empresas estratégicas do país; enquanto evita escaladas nessa guerra comercial.
“É um país que está desacelerando, que não quer ver efeitos atingindo seu próprio território”, pontuou o ex-diretor-geral da OMC.
Guerra comercial atípica
Os EUA confirmaram no sábado (1º) a aplicação de tarifas de importação sobre os produtos oriundos de México, Canadá e China. Na segunda-feira (3), porém, Trump adiou as taxações sobre seus vizinhos, após conversas com seus respectivos mandatários.
A China retaliou a postura norte-americana nesta terça, com tarifações ao petróleo dos EUA e outras produções estratégicas do país.
Azevêdo observou que esta não é uma “guerra comercial típica”.
“Estamos falando de objetivos e metas que extrapolam o âmbito comercial e econômico”, destacou o ex-OMC, indicando dentre os argumentos de Trump ao impor as tarifas a vontade de controlar fluxos migratórios e o tráfico de fentanil aos EUA.
“[Trump busca] conseguir concessões dos parceiros que não têm nada haver com economia. É difícil balisar o futuro dessas tensões, o céu é o limite”, enfatizou.
A avaliação de Azevêdo é de que ao adotar esta postura, os EUA aumentam a imprevisibilidade econômica e geopolítica no mundo inteiro, ao deixar de se apresentar como um parceiro confiável para “qualquer projeto de desenvolvimento econômico social”.
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