A alta de 0,56% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra que o indicador oficial de inflação do país está disseminado e deve seguir pressionado no curto prazo, segundo especialistas ouvidos pela CNN.
Esse foi o maior IPCA para um mês de março desde 2003 (0,71%). O grande vetor para o resultado, de acordo com os economistas, foi a variação do preço dos alimentos.
“Quando olhamos os últimos 5 anos, vemos que os alimentos subiram mais que a inflação média. A taxa acumulada só se distancia da inflação média, com os alimentos ocupando um espaço cada vez maior no orçamento familiar, e uma queda um pouco mais consistente vai demorar. Não há sinais de que preços de alimentos importantes vão começar a cair e aliviar a conta dos consumidores”, afirmou André Braz, coordenador de preços da FGV Ibre, em entrevista ao CNN Money nesta sexta-feira (11).
Braz explicou que as despesas relacionadas a serviços e preços administrados tiveram um pequeno recuo, o que sinaliza que a política monetária do Banco Central está fazendo efeito, especialmente sobre bens duráveis. Ainda assim, a pressão sobre a alimentação não cede e não tem perspectiva de recuar neste momento.
“A conta do supermercado ainda não vai ficar barata. As fontes de pressão agora diminuíram, pelo menos as proteínas saíram um pouco de cena, mas os alimentos in natura estão ganhando espaço maior por efeitos climáticos”, acrescentou.
Para Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Way Investimentos, os números divulgados nesta sexta não contribuem para uma mudança na direção de alta dos juros do Banco Central (BC).
O economista explicou que março geralmente é um mês de inflação menor, e a variação mais elevada em mais de 20 anos pressiona o Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima reunião, mesmo com as incertezas diante da guerra comercial iniciada por Donald Trump.
“Mais um indicador que veio acima do esperado, o que mostra que o cenário não é favorável, a inflação ainda está em um patamar elevado e distante da meta. Mesmo com o cenário externo desafiador, o ponto é que os números seguem ruins por aqui, e o Banco Central não deve mudar a política monetária em vigor”, declarou.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, disse que o cenário de continuação do aperto monetário é favorecido por conta de ações do governo federal para impulsionar a economia.
“Em nossa visão, alguns pontos também podem dificultar o trabalho da autoridade monetária como, por exemplo, as recentes medidas do governo para evitar um esfriamento da economia, dado que elas podem limitar a desaceleração ou até mesmo intensificar a inflação”, declarou.
Entre as medidas citadas pelo economista estão a expansão do crédito consignado para trabalhadores do setor privado, a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), o reajuste do salário-mínimo e a possível antecipação da 13ª parcela do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Tanto Espírito Santo como Gustavo Sung mantêm previsões de IPCA acima de 5%, mais de 2 pontos percentuais acima da meta de 3% para 2025.
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