Mesmo com a trégua entre Estados Unidos e China na guerra tarifária anunciada nesta segunda-feira (12), produtores de soja brasileiros avaliam que o agro nacional ainda pode sair “ganhador” neste ambiente, desde que o mercado global reaja com alta nos prêmios de exportação pagos à soja do Brasil.
Mesmo assim, o momento exige cautela, pois o cenário é complexo e exige leitura atenta da formação de preços e da demanda internacional.
Grandes produtores ouvidos pela reportagem apontam que a lógica é clara: tarifas impostas à soja americana reduzem a competitividade dos Estados Unidos no comércio global, especialmente na China.
Com isso, compradores podem redirecionar suas importações para a América do Sul. O Brasil, maior exportador mundial, ganha protagonismo — mas os efeitos não são automáticos.
Isso porque, o preço da soja brasileira é composto por três fatores: a cotação da commodity na Bolsa de Chicago, o câmbio e o prêmio de exportação. Quando a guerra tarifária derruba a demanda pelos grãos americanos, os preços em Chicago tendem a cair. Mas, se ao mesmo tempo houver maior apetite pela soja brasileira, os prêmios podem subir.
A vantagem aparece quando esse prêmio sobe mais do que a queda em Chicago. Isso só acontece em cenários de demanda aquecida e concorrência limitada. Não é o que se vê hoje.
Dados do Departamento de Agricultura dos EUA mostram que o mercado vive um momento de superávit global e ainda vai colher mais até o fim do ano. O Brasil vem colhendo safras recordes, e a Argentina voltou ao mercado após perdas climáticas no ciclo anterior. Com a oferta elevada, o espaço para valorização dos prêmios se estreita.
Com os estoques cheios, a margem do produtor segue apertada — e o prêmio precisa subir muito para equilibrar as contas.
Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, os negócios no Brasil estão lentos, com vendedores e compradores longe de um consenso sobre os preços.
De acordo com os dados, em abril, o Brasil exportou 15,27 milhões de toneladas de soja, 4,2% a mais do que em março e no mesmo mês de 2024. Foi o terceiro maior volume da série histórica da Secex, atrás apenas de junho de 2023 e abril de 2021. Para a China, as vendas recuaram 3% no mês.
Trégua até agosto
O alívio nos mercados veio com o anúncio de que Estados Unidos e China vão suspender parte das tarifas por 90 dias, até agosto. As taxas americanas sobre produtos chineses cairão de 145% para 30%, enquanto as tarifas chinesas sobre itens dos EUA vão recuar de 125% para 10%.
A pausa cria espaço para negociação, mas o fim do prazo coincide com a colheita de soja nos Estados Unidos — um momento decisivo. Produtores americanos comemoraram a trégua, mas alertam que o setor não aguenta tarifas elevadas por muito mais tempo e apontam para grandes produtores mundiais, como o Brasil.
“A tarifa que permanece em vigor para a soja dos EUA está longe de ser insignificante. Produtos comprados de nossos concorrentes no Brasil e na Argentina não têm esse custo extra.
Isso significa que a China recorrerá primeiro à América do Sul para suas compras e só comprará soja dos EUA quando for absolutamente necessário”, disse Caleb Ragland, presidente da Associação Americana de Soja e produtor no Kentucky, nesta segunda após o anúncio da redução de tarifas.
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